O país tem produzido uma elite no sistema de justiça que vive de costas para a realidade social do país.
Ninguém tem dúvida de que a autonomia do Poder Judiciário é fundamental
ao aperfeiçoamento de qualquer Democracia, isso desde Montesquieu, mas ser um dos sistemas de justiça mais
caros e desiguais do planeta não é razoável.
Explodem escândalos de supersalários, mordomias, privilégios
e até crimes cometidos por magistrados no Brasil, mas parece que o Congresso Nacional
está mais preocupado em atacar ministros da Suprema Corte do que solucionar problemas
estruturais do sistema de justiça.
O CNJ foi criado na esteira de escândalos de corrupção na
justiça do trabalho de São Paulo. O privilégio de uma sala VIP exclusiva para
ministros do TST, custeada com recursos públicos, é só um sintoma claro da desigualdade
e distorção sistemática e permanente no uso do dinheiro público.
Não se trata de garantir segurança e melhores condições
de trabalho a juízes, mas da manutenção de mordomias à uma casta que vive há séculos de costas
para a realidade social da Nação. Uma casta regada a muitos privilégios incompatíveis com a função
pública e moralidade administrativa, sobretudo, em um país cuja sociedade
é marcada pela fome, desemprego e desigualdade. Em nenhuma Nação do mundo
juízes possuem tantas regalias como no Brasil.
Os salários e benefícios, não raro contracheques
milionários, desses cargos já permitem acesso, com recursos próprios, a
qualquer sala “especial” de aeroportos do país. Portanto, trata-se de mais um gasto supérfluo, que só reforça a imagem de uma elite no serviço
público que insiste em viver desconectada da realidade da maioria da população, minando a
confiança e a credibilidade na Justiça.
Segundo o cientista político Rafael Rodrigues Viegas (FGV), a construção de uma sala VIP para ministros do Tribunal Superior do Trabalho, a um custo de R$ 1,5 milhão, ilustra o que ele chama de uma categoria de CEOs da administração pública: elites estatais com muita autonomia e muitos recursos, com pouca transparência e quase nenhuma responsabilização ou fiscalização pelos órgãos de controle, que possuem déficit de accountability, cujos gastos só reforçam a distância entre altos cargos do Judiciário e a realidade da população.
De acordo com o especialista, essas elites prejudicam a
imagem do serviço público e corroem a confiança na Justiça, já que operam por
meio de um modus operandi que visa à reprodução de privilégios infinitos, esgotando os recursos do Estado e ignorando as inúmeras desigualdades do país.
Em verdade, há séculos o Estado brasileiro está sendo capturado por elites estatais insaciáveis, que aprofundam o descrédito institucional e
o fosso entre governantes e governados, entre Estados e Municípios, numa
promiscuidade entre coisa pública e privada, privando uma sociedade inteira de
seus direitos mais fundamentais, como saúde, educação, segurança e assistência
social.
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