sábado, 18 de outubro de 2025

Câmara Municipal de Porto Alegre gastou R$ 16 mil em curso de imersão para vereadores e diretores

Evento foi realizado nos dias 2, 3 e 4 de setembro, das 8h às 17h30, no auditório da AIAMU. A Câmara Municipal comprou 40 ingressos e vereadora Nádia estava entre as palestrantes.

A Câmara Municipal de Porto Alegre autorizou a contratação direta de 40 inscrições, por inexigibilidade de licitação, para participação de diretores e vereadores e seus respectivos convidados em um evento denominado “Imersão Iceberg”, que ocorreu nos dias 2, 3 e 4 de setembro de 2025, na capital.

Segundo o Estudo Técnico Preliminar do Serviço de Planejamento e Acompanhamento de Contratações, o “evento é voltado ao desenvolvimento estratégico de agentes públicos, com foco em práticas legislativas eficazes, comunicação, uso de dados e relação entre os Poderes”, cuja “necessidade está relacionada ao aprimoramento da atuação parlamentar, por meio de formação continuada”.

Embora reconheça que a contratação não estivesse prevista originalmente no Plano de Contratações Anual da Câmara Municipal, a direção-geral justificou sua “tramitação excepcional diante da oportunidade de participação institucional em evento de alta relevância para a atuação parlamentar, com potencial impacto positivo direto na qualificação dos mandatos legislativos, reforçando o interesse público envolvido”, afirmando que a demanda foi formalizada “após consulta aos vereadores” e que “está fundamentada no princípio da eficiência administrativa e da capacitação contínua dos agentes públicos.”

Contudo, por mais irrisório que seja o valor dispensado pelo erário, considerado o valor global arrecadado pelo Município, a compra, que durou menos de 24h, levanta questionamentos sobre a mistura do interesse público e privado no âmbito da administração pública, notadamente porque o evento em questão teve como palestrante a própria Presidente da Câmara de Vereadores.

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O Legislativo desembolsou R$ 400 por ingresso para que cada vereador participasse do curso de imersão, o qual poderia ter sido realizado de forma online, ao custo de R$ 149 a unidade, se os 40 ingressos fossem adquiridos no primeiro lote, capacitando um número muito mais elevado de pessoas.

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À população resta esperar que a imersão dos vereadores tenha servido, pelo menos, para qualificá-los a solucionar os graves problemas que a cidade enfrenta, porque de lacração na internet a sociedade está exausta.

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

PDT lidera uso de verbas da Câmara de Vereadores de Porto Alegre

Os 36 vereadores já gastaram R$ 3.884.868,43 em 2025. Márcio Bins Ely (PDT), José Freitas (Republicanos) e Giovani e Coletivo (PcdoB) foram os que mais gastaram. PDT lidera no comparativo entre os gastos de bancadas.

Em consulta ao Portal da Transparência da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, verificou-se que ao longo deste ano os 36 vereadores da capital já gastaram R$ 3.884.868,43 R$.

Segundo a Resolução 1.576/2001, cada membro do Poder Legislativo Municipal possui verba mensal destinada a custear material de expediente, cópias reprográficas, serviços gráficos, uso de veículo particular, postagens, telefone móvel e fixo, periódicos, custo de aquisição de software, passagens, diárias, ponto de rede, microcomputador adicional, pintura e alteração do gabinete.

Os vereadores Márcio Bins Ely (PDT), José Freitas (Republicanos) e Giovani e Coletivo (PcdoB) foram os que mais gastaram até outubro de 2025. Márcio Bins Ely gastou R$ 82.883,03, José Freitas gastou R$ 65.187,25 e Giovani e Coletivo gastaram R$ 54.507,35.

Por óbvio que o gasto individual, por si só, não é parâmetro para avaliar a atuação e a qualidade de cada parlamentar, pois a depender da concentração ou dispersão da base eleitoral, o gasto por gabinete pode variar. Contudo, um fato chama bastante atenção.

O PDT possui apenas 1 (um) vereador e lidera, não só o gasto individual, como também o gasto por bancada. Sozinha, a bancada do partido gastou R$ 7.518,94, seguida pelas bancadas do PT (R$ 1.926) e PCdoB (R$ 1.745,80).  Uma bancada composta por apenas um vereador gastou mais do que o dobro do valor gasto por duas bancadas que somam sete vereadores. Se incluir toda a oposição, a exemplo do gasto do PSOL (R$ 334,97), que possui 05 (cinco) vereadores, a situação fica ainda mais constrangedora.

Exige especial atenção da sociedade o gasto com o dinheiro público, sobremaneira dos representantes eleitos. Em uma democracia, a transparência deve ser a regra e não a exceção, por isso que na teoria democrática moderna o conceito de accountability se torna central. O termo não possui uma tradução precisa, mas diz respeito à obrigação de prestar contas, seja a um órgão de controle, ao Congresso, à sociedade ou aos eleitores.

Nesse sentido, parece que os vereadores estão precisando prestar contas, não só pelos tiros de bala de borracha e spray de pimenta contra cidadãos que sustentam salários de políticos, como também pelo destino que se dá ao dinheiro do contribuinte. Não é de hoje que o autoritarismo e a má gestão marcam presença na Câmara de Vereadores, quadro que tem se agravado pela baixíssima qualidade política da atual presidência, que prefere carros de luxo do que a presença do povo fiscalizando a atuação do parlamento.

     Gasto por gabinete

  1. Márcio Bins Ely (PDT) - R$ 82883,03
  2. José Freitas (REPUBLICANOS) - R$ 65187,25
  3. Giovani e Coletivo (PCdoB) - R$ 54507,35
  4. Erick Dênil (PCdoB) - R$ 52821,11
  5. Carlo Carotenuto (REPUBLICANOS) - R$ 42689,03
  6. Natasha Ferreira (PT) - R$ 41718,13
  7. Giovane Byl (PODE) - R$ 41192,24
  8. Jonas Reis (PT) - R$ 39058,35
  9. Marcelo Bernardi (PSDB) - R$ 38498,12
  10. Juliana de Souza (PT) - R$ 36771,74
  11. Gilson Padeiro (PSDB) - R$ 34198,47
  12. Rafael Fleck (MDB) - R$ 33989,24
  13. Alexandre Bobadra (PL) - R$ 31930,35
  14. Karen Santos (PSOL) - R$ 31134,9
  15. Cláudia Araújo (PSD) - R$ 27690,54
  16. Roberto Robaina (PSOL) - R$ 27532,3
  17. Psicóloga Tanise Sabino (MDB) - R$ 25702,97
  18. Mauro Pinheiro (PP) - R$ 24885,63
  19. Marcos Felipi (Cidadania) - R$ 23093,17
  20. Alexandre Bublitz (PT) - R$ 23077,34
  21. Gilvani O Gringo (REPUBLICANOS) - R$ 22608,29
  22. Moisés Barboza (PSDB) - R$ 20092,53
  23. Fernanda Barth - (PL) R$ 19160,33
  24. Hamilton Sossmeier (PODE) - R$ 16658,96
  25. Tiago Albrecht (NOVO) - R$ 16559,55
  26. Aldacir Oliboni (PT) - R$ 15692,15
  27. Atena Roveda (PSOL) - R$ 13805,4
  28. Idenir Cecchim (MDB) - R$ 12380,16
  29. Grazi Oliveira (PSOL) - R$ 12314,7
  30. Pedro Ruas (PSOL) - R$ 11661,94
  31. Mariana Lescano (PP) - R$ 11267,39
  32. Vera Armando (PP) - R$ 7123,79
  33. Coronel Ustra (PL) - R$ 6087,47
  34. Comandante Nádia (PL) - R$ 1762,63
  35. Jessé Sangalli (PL) - R$ 0
  36. Ramiro Rosário (NOVO) - R$ 0

sábado, 11 de outubro de 2025

A Legalidade do Inquérito das Fake News

Jornais e parecer da procuradoria-geral da República erraram e foram infelizes atacando o Inquérito n. 4781, instaurado de ofício pelo Supremo Tribunal Federal.

Era 14 de março de 2019, quando o então presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, determinou a instauração do Inquérito 4781, depois que tomou conhecimento de ofensas do procurador da República Diogo Castor de Mattos ao judiciário.

Com a abertura justificada no artigo 43 do Regimento Interno do Supremo, o objetivo da investigação, que tramita em sigilo na Corte, é apurar ataques e notícias falsas envolvendo o tribunal e seus integrantes, cujo relator é o ministro Alexandre de Moraes.

Desde então, o procedimento e o ministro relator vêm sendo vítimas de ataques e notícias falsas, estas muitas vezes veiculadas por importantes jornais do país, que, sem a devida apuração técnica, jogam a opinião pública contra as instituições da República, fragilizando a própria Democracia que se deveria proteger.

O próprio titular da ação penal, ao se manifestar nos autos, cometeu uma das maiores imperícias jurídicas da história, ao afirmar que o sistema penal existente no país não autoriza que a condução de investigação penal seja feita pelo Judiciário, o que, segundo a ex-procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afrontaria o artigo 129, incisos I, II, VII, VIII e § 2º da Constituição.

Todavia, tanto as notícias reportadas quanto a manifestação do Ministério Público não encontram respaldo no universo jurídico, isso porque é sim possível e legal que juízes conduzam investigações criminais no Brasil. São exemplos disso as chacinas ocorridas em 1994 e 1995 na favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão, onde 26 pessoas foram executadas e três mulheres, incluindo duas adolescentes, sofreram violência sexual por agentes policiais, nas quais as respectivas investigações foram marcadas por falhas e omissões, resultando em impunidade.

O caso Favela Nova Brasília chegou à Corte Interamericana de Direitos Humanos e, em 16 fevereiro de 2017, a Corte condenou o Estado Brasileiro, indicando, entre outras obrigações, que a investigação criminal deveria ser de responsabilidade do Ministério Público ou do Poder Judiciário, sempre que o crime for praticado por agentes policiais, no exercício de suas funções, e estivesse ele relacionado a mortes, tortura ou violência sexual.

Mais um exemplo de investigação criminal judicial é a prerrogativa exclusiva de membros da magistratura, mas delegada ilegalmente ao Ministério Público, prevista no artigo 33 da Lei Complementar n. 35 de 1979, de serem investigados pelo Tribunal a que vinculados, em investigação dirigida por um relator, sem necessidade de prévia autorização do respectivo órgão colegiado. Além disso, o artigo 307, do Código de Processo Penal, autoriza que o magistrado brasileiro, excepcionalmente, lavre auto de prisão de prisão em flagrante.

Portanto, até que se mudem as leis do país, o que cabe, exclusivamente, ao Congresso Nacional, respeitada a eventual reserva de iniciativa, o Inquérito das Fake News cumpre a legalidade, pois a Constituição Federal de 1988, na verdade, não optou por nenhum dos três sistemas de processo penal conhecidos pela doutrina, quais sejam: acusatório, inquisitivo ou misto. Aliás, a titulo de direito comparado, na Espanha, o "juez instructor" conduz ativamente investigações criminais, a despeito da titularidade da ação penal a cargo do Ministério Público.

domingo, 10 de agosto de 2025

Revisão do Plano Diretor de Porto Alegre e o lobby do setor imobiliário

Estudo de sociólogo da UFRGS mapeia conexões entre empresários, organizações e políticos, escancarando a quem realmente serve a revisão do PDDUA apresentada pela Prefeitura.

Nos últimos 70 anos, o Brasil passou por um forte processo de urbanização, resultado da explosão demográfica, do processo de industrialização e de um expressivo êxodo rural, que culminou na formação das principais cidades do país.

Porto Alegre é um exemplo. A capital do Rio Grande do Sul não ficou imune a esse processo, passando por significativas transformações territoriais nas últimas décadas, potencializadas pelo modelo de política urbana adotada e pelas sucessivas e casuísticas mudanças nas diretrizes de uso e ocupação do solo.

O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental reflete esse panorama. O PDDUA sofreu várias modificações, sendo a mais significativa a incorporação da zona rural à zona urbana, por meio da Lei Complementar n. 434 de 1999, alterada pela Lei n. 646 de 2010, que privilegiou a elite do setor imobiliário.

A atual revisão expõe a existência dessa relação histórica entre poder político e especulação imobiliária na cidade. Quando governava, Nelson Marchezan Júnior afirmou que não seria ninguém mais do que a elite da comunicação, a elite empresarial e a elite política que fariam as reformas necessárias na cidade e que delegar isso ao "seu João e à Dona Maria seria irresponsabilidade”. A afirmação é apenas um sintoma estrutural de que o espaço urbano é visto como mercadoria: mora bem quem pode pagar!

Um recente estudo elaborado pelo sociólogo Marcelo Kunrath Silva (UFRGS) revelou “íntimas e intensas relações” entre pessoas e empresas com políticos que representam seus interesses nos Poderes Executivo e Legislativo. Trata-se de uma rede entre agentes (pessoas, empresas e organizações) que elegem representantes no parlamento, alteram legislações, instituem políticas públicas, controlam processos decisórios e fazem negócios que geram significativos impactos na cidade.

O pesquisador identificou agentes políticos centrais na rede de relação produzida na pesquisa. Dos 35 vínculos, em primeiro lugar está o atual prefeito de Porto Alegre Sebastião Melo. Os vínculos identificados são recursos recebidos na campanha eleitoral de 2020, quando a candidatura recebe apoio de atores centrais da rede: as famílias Gerdau, Ling, Goldsztein, Hertz e Melnick aparecem entre as principais responsáveis pelas doações recebidas, segundo o site do TSE (2020).

A pesquisa destacou que Melo não foi a opção preferencial dos integrantes da rede na eleição municipal de 2016, quando houve um forte investimento financeiro e político na campanha de Marchezan, que acabou eleito. Por outro lado, a partir dos dados do TSE, observa-se que parte importante dos financiadores de Marchezan (2016) direcionaram recursos à candidatura de Melo (2020), que teve Ricardo Gomes como vice, identificado na rede como operador e articulador entre o empresariado e a política local, especialmente do setor imobiliário.

Diagrama

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Outro agente político que aparece na rede como o segundo indivíduo com o maior número de vínculos (30) é Felipe Camozzato. O deputado estadual apresenta relações estreitas com o deputado federal Marcel Van Hattem, ambos do mesmo partido e com uma trajetória política parecida.

No mapeamento, também foram identificados os vereadores Fernanda Barth, Mariana Pimentel, Ramiro Rosário, Tiago Albrecht e Jessé Sangalli de Mello, que igualmente receberam apoio financeiro e político nas eleições (2020) de setores do empresariado com centralidade na rede.

Mais um agente político chave aparece no sociograma do estudo. É o Secretário Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade. Germano Bremm comanda a pasta responsável pela revisão do Plano Diretor e promoveu alterações que beneficiam o setor imobiliário, como o licenciamento digital, o licenciamento expresso e o habite-se autodeclaratório.

Na sua gestão, restou evidente o desmonte em estruturas de participação, a exemplo dos GTs de coordenação técnica, coordenação regional e grupos temáticos. Entretanto, a controvérsia não para por aí, já que a revisão do Plano Diretor de Porto Alegre tornou-se alvo de uma enxurrada de ações na Justiça e no Tribunal de Contas do Estado.

O TCE suspendeu as atividades do Conselho Municipal do Desenvolvimento Urbano e Ambiental porque detectou irregularidades na eleição dos conselheiros, destacando o impacto das decisões do órgão colegiado na gestão da cidade. A Justiça também já foi acionada para garantir eleições legítimas e acesso público a reuniões, uma vez que o CMDUA estava operando com composição irregular desde 2020.

O Ministério Público, por meio do Centro de Apoio Operacional da Ordem Urbanística e Questões Fundiárias, veio a púbico esta semana e apontou uma série de irregularidades. O MP enfatizou a ausência de medidas concretas voltadas à vulnerabilidade climática da cidade, como o mapeamento de áreas de risco e a previsão de ações de drenagem urbana, criticando o foco na verticalização e flexibilização de parâmetros urbanísticos voltados ao mercado imobiliário de alto padrão, sem contrapartidas para habitação de interesse social ou adensamento populacional. O órgão ainda apontou falhas na regulamentação de áreas verdes e na incorporação de soluções baseadas na natureza.

Não bastassem as inúmeras controvérsias que atravessam a revisão do PDDUA, ontem (09/08), marcada por mais liminares da justiça federal, foi realizada uma audiência pública lotada de CCs e representantes do setor imobiliário, em que se limitou a entrada do público após às 11 horas, tornando o ato só mais um rito formal para validar o que já estava decidido nos gabinetes, bem longe da população, que só parece importar de dois em dois anos.

É constrangedor ter que reportar o óbvio: João e Maria importam. A participação popular não é exceção, mas direito e dever. O Plano Diretor deve ser um instrumento de gestão democrática da cidade, atendendo às necessidades da população, como expressamente determinam a Lei e a Constituição, e não servir a interesses particulares.

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

A SALA VIP DOS MINISTROS DO TST

O país tem produzido uma elite no sistema de justiça que vive de costas para a realidade social do país.

Ninguém tem dúvida de que a autonomia do Poder Judiciário é fundamental ao aperfeiçoamento de qualquer Democracia, isso desde Montesquieu, mas ser um dos sistemas de justiça mais caros e desiguais do planeta não é razoável.

Explodem escândalos de supersalários, mordomias, privilégios e até crimes cometidos por magistrados no Brasil, mas parece que o Congresso Nacional está mais preocupado em atacar ministros da Suprema Corte do que solucionar problemas estruturais do sistema de justiça.

O CNJ foi criado na esteira de escândalos de corrupção na justiça do trabalho de São Paulo. O privilégio de uma sala VIP exclusiva para ministros do TST, custeada com recursos públicos, é só um sintoma claro da desigualdade e distorção sistemática e permanente no uso do dinheiro público.

Não se trata de garantir segurança e melhores condições de trabalho a juízes, mas da manutenção de mordomias à uma casta que vive há séculos de costas para a realidade social da Nação. Uma casta regada a muitos privilégios incompatíveis com a função pública e moralidade administrativa, sobretudo, em um país cuja sociedade é marcada pela fome, desemprego e desigualdade. Em nenhuma Nação do mundo juízes possuem tantas regalias como no Brasil.

Os salários e benefícios, não raro contracheques milionários, desses cargos já permitem acesso, com recursos próprios, a qualquer sala “especial” de aeroportos do país. Portanto, trata-se de mais um gasto supérfluo, que só reforça a imagem de uma elite no serviço público que insiste em viver desconectada da realidade da maioria da população, minando a confiança e a credibilidade na Justiça.

Segundo o cientista político Rafael Rodrigues Viegas (FGV), a construção de uma sala VIP para ministros do Tribunal Superior do Trabalho, a um custo de R$ 1,5 milhão, ilustra o que ele chama de uma categoria de CEOs da administração pública: elites estatais com muita autonomia e muitos recursos, com pouca transparência e quase nenhuma responsabilização ou fiscalização pelos órgãos de controle, que possuem déficit de accountability, cujos gastos só reforçam a distância entre altos cargos do Judiciário e a realidade da população.

De acordo com o especialista, essas elites prejudicam a imagem do serviço público e corroem a confiança na Justiça, já que operam por meio de um modus operandi que visa à reprodução de privilégios infinitos, esgotando os recursos do Estado e ignorando as inúmeras desigualdades do país.

Em verdade, há séculos o Estado brasileiro está sendo capturado por elites estatais insaciáveis, que aprofundam o descrédito institucional e o fosso entre governantes e governados, entre Estados e Municípios, numa promiscuidade entre coisa pública e privada, privando uma sociedade inteira de seus direitos mais fundamentais, como saúde, educação, segurança e assistência social.

domingo, 3 de agosto de 2025

A DEMOCRACIA COLOCOU O BOLSONARISMO NO BANCO DOS RÉUS

Ausência de uma justiça de transição pós-ditadura explica ataques à democracia, à soberania nacional e o protagonismo político de militares no Brasil.

Desde a ditadura militar de 1964 que a sociedade brasileira não vive um ataque sistemático orquestrado contra a Constituição e a Democracia. O bolsonarismo despertou o que há de pior na política nacional. 

Ódio à Constituição, desligitimação das instituições, ataques a jornalistas, pedidos de intervenção militar, culto a torturadores, tentativa de ruptura da ordem política e social e até invocação de um novo AI-5 foram e ainda são algumas das pautas mais bizarras defendidas por bolsonaristas ávidos pelos anos de chumbo.

Jair Messias Bolsonaro foi o único presidente pós-redemocratização não reeleito. Perdeu a eleição porque, enquanto a fome e o desemprego aumentavam, preferiu atacar a imprensa, o sistema eleitoral, o Poder Judiciário e debochou da morte de milhares de pessoas durante a pandemia.

Ainda que as eleições contassem com as mesmas urnas que o elegeram em 2018, o ex-presidente não aceitou a derrota e arquitetou um golpe para permanecer no poder, prevendo, entre outras medidas, a implantação de um Estado de exceção e a execução do Presidente da República e Vice-Presidente eleitos e de um ministro da Suprema Corte.

Tanto não bastasse, como tudo em política pode ser transformado em narrativa, a meta do bolsonarismo agora é transformar a tentativa de golpe de Estado em uma fantasiosa perseguição política, nem que isso custe muito caro à soberania nacional e aos interesses do agronegócio e da indústria.

Exemplo são as retaliações dos EUA e as constantes manifestações contra supostos “abusos” do Supremo Tribunal Federal, em especial, do ministro Alexandre de Moraes. Curioso é que a solução apresentada pelos radicais é articular mais represálias e eleger o número mínimo de Senadores para propor o impeachment de ministros da Suprema Corte considerados inimigos.

O CNJ é formado majoritariamente por integrantes da carreira e presidido pelo Presidente do STF, o Poder Judiciário brasileiro é um dos mais caros do planeta e explodem escândalos de corrupção e supersalários em diversos tribunais, mas isso tudo parece não importar aos bolsonaristas, que nunca propuseram um projeto de lei para reformar o sistema de justiça do país e torná-lo mais eficiente.

Ninguém tem dúvida de que objetivo do núcleo duro do bolsonarismo, mais precisamente de sua elite dirigente, apoiado por alguns Deputados e Senadores da extrema direita, é o de livrar os principais personagens da trama golpista da cadeia, frustrando a aplicação da lei, já que tudo deveria terminar em pizza na política brasileira.

Essa simbiose entre política, autoproteção e autoritarismo corrói a Democracia. Quando parlamentares abandonam sua função de legislar a favor do desenvolvimento nacional e dos interesses da Nação, traem a pátria e promovem a desfiguração das funções constitucionais do Poder Legislativo.

Já dizia o dramaturgo e poeta Bertolt Brecht: que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio? Não há Democracia sem o sufrágio livre e universal. Também não há Democracia onde juízes são atacados por aplicar a lei. Ao agirem como inimigos da Constituição, políticos traem seu papel constitucional e ameaçam a própria Democracia. Faz falta uma justiça de transição no Brasil, talvez assim militares não tivessem espaço e protagonismo político.

sábado, 5 de julho de 2025

Eleição Direta do PT em Porto Alegre

Com sete chapas inscritas, PED aponta para possível segundo turno entre CNB e AVANTE na capital do Rio Grande do Sul.

O Processo de Eleição Direta (PED) é um importante instrumento de democracia interna do Partido dos Trabalhadores, por meio do qual filiados vão às urnas votar para renovar as instâncias partidárias a nível municipal, regional, estadual e nacional.

Esse processo tem como objetivo não apenas eleger presidentes, executivas, diretórios e promover a composição das chapas na disputa, mas também aprofundar a democracia e os debates em prol de um partido mais plural, representativo dos mais variados segmentos da sociedade.

Em Porto Alegre, capital dos gaúchos, com 07 chapas inscritas na disputa interna, o cenário político aponta para um possível quadro de segundo turno entre CNB e Avante.

A tendência majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB) deve conquistar diretórios estaduais em 18 unidades da Federação nesse domingo (06/07). O Rio Grande do Sul é um dos estados que deve ficar de fora da hegemonia da tendência, cujo cenário aponta para possível vitória no primeiro turno e manutenção do atual grupo político que preside o partido, onde a maior liderança política é o deputado federal Paulo Pimenta. Militantes experientes, contudo, são cautelosos e não descartam eventual reviravolta.

Já a conjuntura em Porto Alegre é outra bem diferente. A Socialismo em Construção também preside o PT municipal e apoia Helenir Schurer. A sindicalista disputa o comando do partido na capital pela CNB, que, embora seja corrente minoritária no Estado, tem o apoio da força política mais expressiva no PT gaúcho.

Porém, um entrave à vitória da sindicalista é, justamente, o movimento político liderado por Maria do Rosário, segunda deputada federal do PT mais votada no Estado e candidata à prefeita na última eleição. A Avante possui dois vereadores, um deputado estadual e inúmeras lideranças, todos com base em Porto Alegre, exercendo forte influência política na disputa municipal, com potencial de levar a eleição ao segundo turno, quando deve receber apoio de outros grupos políticos.

Inobstante as críticas que surgiram após o desempenho na eleição municipal em 2024, análise de conteúdo realizada com auxílio do software francês Iramuteq, a partir de questionário aplicado aos apoiadores de Maria do Rosário, revela que a base social do movimento político liderado pela deputada se mantém coesa, estável e mobilizada.

                                    

A análise de dados revelou padrões importantes nas respostas dos apoiadores. A nuvem de palavras destacou termos como "política", "formação", "PT", "movimento", "comunicação", “debate”, “novo”, “pessoa”, “Brasil, “direito”, “grupo”, “coletivo”, “socialismo”, “espaço”, “mulher”, etc. O dendograma classificou as respostas em seis classes distintas, enquanto o plano cartesiano mostrou associações entre palavras relacionadas à "formação". Por sua vez, a análise de similitude verificou as conexões entre conceitos, com clusters centrais em torno de "formação", "política", "debate", "PT", "Maria do Rosário", "movimento", “pessoa” e “social”.

Com efeito, os resultados indicam que a maioria dos apoiadores acredita que o movimento político liderado pela deputada é o único capaz de reorganizar e promover, dentro do partido, um amplo debate sobre formação política e mobilização sintonizadas com a nova realidade social e digital.

Fundada em outubro de 2015, em uma conjuntura na qual o impeachment da Presidente Dilma Rousseff estava em curso no Brasil, a Avante nasceu comprometida com a construção do partido e sua afirmação estratégica com a luta socialista e dos movimentos sociais.

O movimento político tem Maria do Rosário e Fátima Bezerra no Rio Grande do Norte como suas principais lideranças nacionais. A deputada federal foi a primeira parlamentar a enfrentar o fascismo que ganhava forma com a ascensão do bolsonarismo no país. Por sua vez, Fátima Bezerra foi deputada estadual, federal, senadora é a atual governadora do Estado potiguar.

É nesse contexto que o movimento político, com a candidatura do sociólogo Rodrigo Campos Dilelio, pode empurrar a disputa eleitoral em Porto Alegre para o segundo turno, quando CNB, apoiada por Socialismo em Construção, deve enfrentar a união de outros grupos políticos internos. A ala dominante do PT ainda deve sofrer derrotas em Mato Grosso do Sul, Tocantins, Bahia, Rio Grande do Norte, Amazonas e Amapá. Em Mato Grosso e Alagoas o cenário também é bastante incerto.